domingo, 20 de dezembro de 2015

Análise diferencial da pobreza

Cerca de 1.000 milhões de pessoas vivem ainda na pobreza extrema. Esta pobreza está concentrada na África subsariana e sul da Ásia, mas existem bolsas de pobreza noutras parte do mundo como no Haiti, Afeganistão e Laos.



Através de uma análise diferencial, podemos identificar sete categorias principais que estão na base da existência da pobreza:

1. Quando um país está na chamada "armadilha" da pobreza que significa que o país é demasiado pobre para fazer os investimentos básicos que necessita para escapar da privação material e atingir crescimento económico.

2. A pobreza pode resultar de más políticas económicas, como a escolha errada da estratégia de investimentos, fecho das fronteiras quando o comércio internacional faria mais sentido ou a escolha da planificação económica em vez de um sistema de mercado.

3. A pobreza pode reflectir o estado de insolvência financeira do governo de modo a que impeça o investimento público em vias de comunicação, escolas, clínicas e a contratação de profissionais como médicos, professores e engenheiros.

4. A pobreza pode resultar de alguns aspectos relacionados quando a sua geografia. Um país pode ser cercado por terra, o que pode dificultar o comércio; pode estar localizado numa zona montanhosa e estar impedido da prática da agricultura ou possuir uma capacidade de produção low-cost; pode enfrentar epidemias como a malária ou pode estar altamente vulnerável a repetidos desastres naturais como terramotos, tsunamis, ciclones tropicais (furações e tufões), secas ou cheias. 

5. O país pode sofrer de má governação. A corrupção, a ineficiência e a incompetência quando levadas a um extremo podem ser um grande entrave ao crescimento económico.

6. Outro factor que contribuir para a continuação da pobreza podem ser as barreiras culturais. Um exemplo importante são as sociedades que continuam a discriminar as mulheres e adolescentes. As adolescentes do sexo feminino podem ter pouca ou nenhuma hipótese de frequentar a escola e espera-se que casem muito cedo e que tenham muitos filhos, mesmo quando a família é demasiado empobrecida.

7. O último factor é a geopolítica, as relações políticas e de segurança de um país com os seus vizinhos, aliados e inimigos. Se um país está protegido de um ataque físico, pode gozar de soberania e estar apto a fazer comércio internacional com outros países e assim favorecer o desenvolvimento económico.

Esquema da armadilha da pobreza
(Fonte: http://beyzac.iics-k12.com/files/2014/08/Screen-Shot-2014-08-25-at-12.32.51-AM.png)

Um ponto fundamental é que estes problemas não se aplicam de modo igual a todos os países. De facto, algumas categorias são importantes para alguns países e outras categorias relevantes para outros. Não existe uma explicação única para a persistência da pobreza. As circunstâncias locais, a história e o contexto são todos factores importantes.

Para a maioria da África subsariana, o diagnóstico mais correcto é a primeira categoria - a "armadilha" da pobreza. No passado, apesar de estarem conscientes dos investimentos necessários em saúde, educação e infraestruturas básicas, os governos africanos não possuíam os meios financeiros para concretizar os seus planos.

Existem duas principais formas de os países se livrarem desta "armadilha". A primeira forma é a contracção de dívidas para realizarem os investimentos e esperar que o futuro desenvolvimento económico gere retorno para pagar essas mesmas dívidas. A segunda forma é receber assistência temporária por parte de governos estrangeiros, empresas, fundações e instituições internacionais. para financiar as necessidades mais urgentes. Quando os governos e as agências oficiais prestam ajuda, chamamos de assistência oficial ao desenvolvimento. No caso da ajuda por parte de organizações não governamentais e fundações privadas, chamamos de assistência privada ao desenvolvimento.

Fonte
The Age of Sustainable Development (Jeffrey D. Sachs)

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