domingo, 24 de abril de 2016

Desigualdade de género

A desigualdade de género tem sido uma característica presente desde há muito na maioria das sociedades, um pouco por todo o mundo. Na maior parte da história, os homens eram os únicos a pertencer à classe trabalhadora paga, enquanto que as mulheres trabalhavam na agricultura e para o lar enquanto que tinham a cargo a educação dos filhos. A legislação e as normas sociais reforçaram esta divisão do trabalho, tornando impossível que a mulher tivesse os seus próprios negócios ou controlasse os seus rendimentos.

Felizmente, estas desigualdades de género estão a diminuir rapidamente em muitas partes do Mundo. As velhas práticas de discriminação contra as mulheres estão a mudar, as ideias estão a mudar, as exigências económicas estão a mudar e as possibilidades económicas para as mulheres estão a caminhar para a direcção certa.

O desenvolvimento sustentável pode ajudar nesse processo através da promoção de alterações legais e administrativas que apoiem as mulheres. Como resultado, as adolescentes permanecem na escola mais tempo e entram no mercado de trabalho com maiores competências. As taxas de fertilidade descem bruscamente, as famílias com menos filhos investem mais em educação, saúde e nutrição por criança e as mulheres entram na força de trabalho promovendo um aumento da parte da população em idade de trabalho.

Em 2010, o Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas (PDNU) introduziu o Índice de Desigualdade de Género (IDG). À semelhança do Índice de Desenvolvimento Humano, o IDG combina diversos indicadores numa base ponderada para fornecer uma avaliação quantitativa da desigualdade de género em cada país.

Índice de desigualdade de género do PDNU em 2014
(Fonte: http://bit.ly/1r9YwVT)

O índice inclui 3 categorias. A primeira é a saúde reprodutiva que inclui a taxa de mortalidade materna e a taxa de fertilidade na adolescência. Esta última é um indicador de quão as adolescentes são forçadas a desistir da sua educação e a casar mais cedo e a ter filhos. A segunda categoria é a capacitação, medida através da percentagem de mulheres com assento no parlamento nacional e taxa de inscrição de mulheres no ensino superior. A terceira é a participação da mulheres no mercado de trabalho.

Como se pode observar no mapa, os países da África subsariana e Sul da Ásia apresentam altos índices de desigualdade. Estas são zonas onde a mulher tem pouca participação política e prestígio social.

Percentagem de mulheres com mais de 15 anos que participam no mercado de trabalho em 2014 
(Fonte: http://www.copts.com/english/wp-content/uploads/2014/02/women-labor-force-participation1.jpg)

De notar que os países do Norte de África e Médio Oriente têm baixas percentagem de mulheres com participação no mercado de trabalho. Em muitos destes países, as práticas culturais impedem as mulheres de trabalhar fora do lar.

Mesmo nos países mais ricos, onde a taxa da participação das mulheres no mercado trabalho aumentou marcadamente nos últimos trinta anos, ainda existem diferenças consideráveis entre os rendimento dos homens e mulheres.

Diferença de rendimento entre mulheres e homens nos países da OECD em 2015
(Fonte: https://pbs.twimg.com/media/CLYMb6tUcAE1Lu1.png)

Existe ainda um progresso na igualdade de género, mesmo nos países mais pobres. Nos últimos 40 anos, a nível da escolaridade primária, a diferença entre rapazes e raparigas quase que desapareceu e em algumas partes do globo, as taxas de inscrição das adolescentes do sexo feminino no ensino secundário e superior ultrapassaram as taxas respeitantes aos adolescentes do sexo masculino.
Inscrição no ensino primário de rapazes e raparigas entre 1970-2004 
(Fonte: http://bit.ly/1YOxTAe)

Na política, algumas sociedades introduziram sistemas de quotas que obriga a que uma certa proporção de de votos na representação proporcional dos partidos que seja ocupada por mulheres. O apoio financeiro do governo para licença de maternidade e cuidado infantil podem ajudar as mulheres no mercado de trabalho.

Finalmente, importa dar ênfase aos actos de violência doméstica, violação e outros actos violentos de que as mulheres são alvo. Em muitas sociedades, as mulheres ainda são vistas como propriedade dos seus cônjuges. Esta abordagem desumana é a negação fundamental dos direitos humanos.

Fonte:
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs

terça-feira, 5 de abril de 2016

Forças que aumentam a desigualdade

Durante as últimas duas décadas, a desigualdade no rendimento aumentou marcadamente nos Estados Unidos e em muitos outros países. O rendimento per capita têm vindo a aumentar, mas esses ganhos têm beneficiado aqueles que estão no topo da distribuição de rendimento. O coeficiente de Gini nos Estados Unidos aumentou de 0.40 para 0.48 entre 1970 e 2013 - um aumento bastante considerável.

Existem pelo menos três forças fundamentais a desempenhar um papel no aumento das desigualdades económicas nos Estados Unidos, em diversos países europeus e em muitas economias emergentes. O primeiro factor fundamental é a discrepância dos salários entre os trabalhadores mais capacitados e com maior especialização e os trabalhadores com menor qualificações. Os retornos do investimento na educação têm aumentado, deixando aqueles com menor educação para trás.

Um segundo fenómeno tem sido o uso crescente de robótica, sistemas avançados de gestão de dados e outras tecnologias de informação, que parecem estar a mudar o rendimento do trabalho para o capital. Ao mesmo tempo, que se aumentou drasticamente a produtividade e se diminui o custo de muitos bens e serviços, os trabalhadores começaram a ser substituídos por essa tecnologia.

Paralelamente, a globalização e a integrada económica que se começaram no final da década de 70, resultou na globalização dos sistemas de produção, que conduziu à deslocalização do trabalho para China, México e outros locais com mão-de-obra mais barata. O número de postos de trabalho nos Estados Unidos no sector da produção começaram a diminuir assim que se deslocaram para a Ásia e para a bacia das Caraíbas. Isto afectou os trabalhadores com menor qualificação através do corte de salários para salvar outros postos de trabalhos ou do desaparecimento dos mesmos.

A terceira força tem sido o sistema político, que no caso dos Estados Unidos têm amplificado as desigualdades causadas por forças de mercado. Por exemplo, os contribuidores das campanhas têm sido capazes de usar a sua influência política para receber privilégios especiais na forma de isenção de impostos, subsídios ou alterações de regulamentações favoráveis.

Podemos entender estas alterações é olhar para o gráfico que mostra a diferença entre o salário extra (premium in income) recebidos pelos licenciados relativamente àqueles apenas com o ensino secundário nos Estados Unidos. Em 1973, essa diferença era de 30% e a partir de 1979, o salário extra dos licenciados aumentou rapidamente para cerca de 45%.

Rendimentos médios semanais de trabalhadores com licenciatura e ensino secundário nos Estados Unidos entre 1979 e 1999 
(Fonte: http://www.economist.com/images/20000923/csu712.gif)

Outro aspecto que se pode considerar é a diferença entre os salários dos CEOs e os salários dos trabalhadores. Com a apoio da desregulação, especialmente no sector financeiro e o enfraquecimento do poder dos sindicatos (em parte como resultado da globalização), os CEOs americanos começaram a atribuir mega-salários a eles próprios. Nos anos 70, o salário do CEO era cerca de 20 vezes maior do que o trabalhador médio, mas depois passaram a receber cerca de centenas de vezes mais. Comparativamente, os Estados Unidos são um dos países com um dos rácios mais elevados - cerca de 350.

Rácio entre salários de CEOs e trabalhadores entre 1965 e 2012
(Fonte: http://www.bud-meyers.com/CEOS/CEO_PAY-figure-a.jpg)
Rácio do salários CEO vs. trabalhadores em 6 países
(Fonte: http://www.macleans.ca/wp-content/uploads/2014/09/WHO-EARNS-WHAT-Business-7.jpeg)

Esta crescente desigualdade reflecte-se na fatia do rendimento que é detida pelas famílias mais ricas. Entre os anos 40 e os anos 70, as famílias que pertenciam aos 1% mais ricos detinham cerca de um 10% do rendimento total das famílias. Hoje em dia, essa diferença quase que duplicou, ou seja, 20% do rendimento total, pertencem a 1% das famílias que fazem parte do topo.

Fatia do rendimento pertencente aos 1% e aos 0,1% mais ricos nos Estados Unidos entre 1913 e 2013
(Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e7/U.S._Income_Shares_of_Top_1%25_and_0.1%25_1913-2013.png)

Fonte:
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs