domingo, 28 de fevereiro de 2016

Equação IPAT

Uma das primeiras tentativas para descrever o papel de múltiplos factores na determinação da degradação ambiental foi a equação IPAT. Paul Ehrlich e John Holdren apresentaram numa série de artigos entre 1970 e 1974 a seguinte equação:

Equação IPAT
(Fonte: http://pierie.nl/wp-content/uploads/2012/01/IPAT-equation.jpg)

I - Impacto: representa os impactos de uma determinada acção no ambiente
P - População: número de pessoas numa determinada área
A - Afluência: nível de consumo per capita
T - Tecnologia: impacto por unidade de tecnologia

Esta fórmula foi inicialmente usada para dar ênfase à contribuição do crescimento populacional à escala global para a degradação ambiental, numa altura em que a população mundial era metade do que é actualmente. 

Para além de destacar a importância da contribuição da população para os problemas ambientais, esta equação fez outras duas contribuições importantes. Chamou a atenção para o facto de os problemas ambientais envolverem mais do que a poluição e que são motivados por diversos factores em acção ao mesmo tempo que produzem um efeito combinado. Posterior investigação, que usou a equação, indica que a suposição de uma simples relação multiplicativa entre os principais factores não se verifica - a duplicação da população, por exemplo, não se traduz numa duplicação do impacto ambiental. As abordagens que permitem uma ponderação diferenciada para cada factor tem sido mais bem sucedida.

As tentativas de melhorar o poder de previsão da equação têm sido de forma a incorporar uma variação de factores sociais. políticos e tecnológicos. Alguns dos estudos acentuam a utilidade da equação para as políticas de desenvolvimento através da indicação da contribuição de diferentes factores e assim os recursos podem ser melhor direccionados para reduzir o impacto de forma mais efectiva. No entanto, tornar a fórmula mais complexa também torna mais difícil aplicá-la.

Até à data, as aplicações da equação IPAT têm-se limitado à avaliação de uma única medida de impacto ambiental, como a poluição atmosférica. Por exemplo, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas aplicou a IPAT para estudos dos níveis de dióxido de carbono.

A equação IPAT ajuda-nos a entender quais os factores que aumentam ou diminuem o impacto ambiental e mostra-nos como existem múltiplos caminhos para reduzir os efeitos indesejados. Por exemplo, países diferentes podem focar-se em factores diferentes que reduzem o impacto global: países mais ricos podem contribuir mais se diminuírem o seu nível de consumo (A); os países mais pobres contribuir mais se reduzirem a sua população (P) e os antigos países socialistas podem contribuir mais se tornarem as suas tecnologias mais eficientes.

Fontes:

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A tragédia dos comuns

Existem três tipos de propriedade ou direitos de acesso a recursos. Um é a propriedade privada, onde os indivíduos ou as empresas detêm o direito de acesso ou exploração de terreno, minerais e outros recursos. O segundo é a propriedade comum, onde os direitos de acesso a certos recursos pertencem a grandes grupos de indivíduos. Da terceira categoria fazem parte os recursos renováveis de livre acesso, que não pertencem a nenhum indivíduo, empresa ou nação, e que estão disponíveis por um pequeno preço ou de forma gratuita. Exemplos desses recursos partilhados incluem a atmosfera, as águas de subterrâneas, os oceanos e a vida marinha.

Muitas propriedades comuns e recursos de livre acesso têm sido degradados. Em 1968, o biólogo Garrett Hardin (1915-2003) designou esta degradação de tragédia dos comuns. Este fenómeno ocorre pelo raciocínio de cada utilizador: "Se eu não usar este recurso, alguém usará. A pequena parte que uso ou poluo não é suficientemente grande para ter importância e de qualquer forma isto é um recurso renovável."
Quando o número de utilizadores é pequeno, esta lógica aplica-se, no entanto, o efeito cumulativo de muitas pessoas a tentarem explorar um recurso partilhado, pode levar à sua degradação e finalmente ao seu esgotamento ou destruição. Tal degradação ameaça a nossa capacidade de assegurar a sua sustentabilidade económica e ambiental a longo-prazo dos recursos de livre acesso.

Tragedy of the Commons or The Problem with Open Access 

Para combater e evitar a tragédia dos comuns, uma das formas é a acção individual que está ligada com a nossa responsabilidade de serem bons guardiões, no entanto, existem algumas limitações mencionadas por Hardin: 1) Não é psicologicamente saudável forçar as pessoas a agir contra os seus próprios interesses, 2) Discrimina pessoas com boa consciência, que serão menos bem sucedidas e 3) Não resultará no longo prazo. As pessoas sem consciência serão mais bem sucedidas do que as outras e os seus valores dominarão o sistema.

A outra estratégia pode ser introduzir governança interna e normas sociais na utilização destes recursos, embora seja fundamental conhecermos os outros utilizadores e existir boa comunicação.

Uma outra alternativa é introduzir mecanismos de governança externa em que os governos criam leis e regulamentos que limitam o uso de determinados recursos como limitar a quantidade de peixe extraída dos mares ou regulamentar  a quantidade de poluentes que podem ser lançados para a atmosfera e para os oceanos. Contudo, a corrupção, a falta de informação, as actividades ilegais e o facto de existirem organizações mundiais a gerirem estes recursos, podem enfraquecer a aplicação deste tipo de governança.

Quando estas três alternativas falham, o último recurso poderá ser a conversão destes recursos em propriedade privada. A razão subjacente é que quando possuímos algo, é mais provável que cuidemos melhor do nosso investimento. No entanto, esta abordagem não é muito prática uma vez que não podemos dividir a atmosfera e os oceanos e vendê-los como propriedade privada.

Fontes:

Fronteiras do Planeta

Em 2009, um grupo de cientistas, liderado por Johan Rockström do Centro de Resiliência de Estocolmo e Will Steffen da Universidade Nacional Australiana, desenvolveu o conceito de fronteiras do Planeta, identificando as nove propriedades relacionadas com as mudanças no ambiente provocadas pelo Homem. A ciência mostra que estes nove processos e sistemas regulam a estabilidade e resiliência do sistema terrestre - as interacções da terra, oceanos, atmosfera e a vida que juntos proporcionam as condições das quais as nossas sociedades dependem.

As 9 fronteiras do Planeta: os limites e o progresso até 2009
(Fonte: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/21/f3/d3/21f3d3d33d4bf0c28789c8f0d3e5756c--planet-s-royal-society.jpg)

1) A primeira e mais importante fronteira está relacionada com as alterações climáticas causadas pelo Homem, que são resultado dos níveis crescentes de gases com efeito de estufa (GEE) na atmosfera. Os GEE incluem o dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e alguns químicos industriais. À medida que a sua concentração aumenta na atmosfera, o planeta aquece. Este aumento, provocado pela actividade industrial, tem aumentado drasticamente no século passado, e a Terra já aqueceu cerca de 0,9º celsius, comparando com as temperaturas antes da Revolução Industrial. Estas alterações no clima são especialmente ameaçadoras pelos danos que podem provocar no fornecimento de alimento e na sobrevivência de espécies, pelo aumento da intensidade das tempestades e pela subida do nível do mar, que podem alterar drasticamente ou destruir a vida em muitas partes do mundo. 

2) A segunda fronteira do planeta - acidificação do oceano - está relacionada com a primeira. Os oceanos tornam-se mais ácidos à medida que as concentrações de dióxido de carbono aumentam. O dióxido de carbono dissolve-se no oceano, produzindo ácido carbónico. O ácido carbónico divide-se num ião de hidrogénio e bicarbonato. O aumento de iões de hidrogénio significa o aumento da acidez dos oceanos. Este aumento ameaça várias formas de vida marinha, incluindo corais, crustáceos e plankton, pela dificuldade acrescida para estas espécies de construir as suas estruturas.

3) A terceira fronteira é a camada do ozono. Nos anos 70, cientistas descobriram que certos químicos industriais chamados Clorofluorcarbonetos (CFC), que eram usados principalmente na refrigeração e aerossóis, tendiam a entrar na atmosfera superior e a dissociarem-se. O cloro nos CFC, quando dissociado do resto da molécula, atacavam o ozono na estratosfera. Felizmente, graças à ciência e à tecnologia, os CFC foram eliminados e substituídos por químicos seguros.

4) A quarta é a poluição causada por fluxos de azoto e fósforo, especialmente como resultado do uso excessivo de fertilizantes químicos pelos agricultores a nível global. O problem é que grande parte do azoto e fósforo não são absorvidos pelas culturas. Uma parte regressa à atmosfera e é levada pelo vento para outros locais. Outra parte chega às águas subterrâneas e aos rios, em que grandes concentrações de azoto e fósforo acabam por chegar aos estuários. Este excesso de nutrientes dá origem a "blooms de algas", em que o seu número aumenta massivamente em virtude da alta disponibilidade de azoto e fósforo. Quando estas algas morrem, são consumidas por bactérias, que por seu turno esgotam o oxigénio na água, dando origem a "zonas mortas" (baixas em oxigénio) e matando peixes e outras espécies marinhas.

5) A quinta fronteira surge do uso excessivo de recursos de água doce. Do total dos recursos hídricos que a humanidade usa, cerca de 70% é usado para produção agrícola, cerca de 20% é usado na indústria e os restantes 10% para uso doméstico. Ao usarmos este recurso excessivamente, a humanidade está a esgotar as principais fontes de água doce.

6)  A sexta fronteira é o uso do solo. A humanidade tem convertido paisagens naturais como as florestas em terrenos agrícolas e para pastoreio durante milhares de anos. Muitas regiões do mundo, que outrora eram cobertas florestas, agora são ocupadas por terrenos agrícolas e cidades. A desflorestação não só adiciona dióxido de carbono para a atmosfera, mas também destrói os habitats de outras espécies.

7) A sétima fronteira do planeta é a biodiversidade. A biodiversidade não só define a vida no planeta, mas também contribui de forma fundamental para as funções do ecossistemas, para a produtividade das culturas agrícolas, e em última instância para a saúde e sobrevivência da humanidade. Nós dependemos da biodiversidade para fornecimento de alimento, protecção para desastres naturais, materiais industriais e construção, fornecimento de água potável e para a nossa capacidade de resistir a pestes e agentes patogénicos. A humanidade está a provocar danos massivos na biodiversidade, através de poluição, desflorestação, alterações climáticas, acidificação dos oceanos e fluxos de azoto e fósforo. Inúmeras espécies enfrentam o risco de extinção e alguns afirmam que a humanidade está a causar a sexta grande extinção na Terra.

8) A oitava fronteira é o lançamento de aerossóis para a atmosfera. Quando queimamos carvão, biomassa e outros combustíveis, pequenas partículas chamadas de aerossóis são lançadas para o ar. Uma quantidade enorme de partículas pode ser particularmente perigoso para o aparelho respiratório e tem um significativo impacto na dinâmica das alterações climáticas.

9) A última categoria é a poluição química. Indústrias como a petroquímica, produção de aço e mineira não só usam uma enorme quantidade de solo e água, mas também libertam uma grande quantidade de poluentes para o meio ambiente.

Com base nesta análise, as duas fronteiras que estão associadas com maior risco são a diversidade genética e os fluxo de azoto e fósforo.

Quando a humanidade passa estas fronteiras do planeta, significa que as pressões humanas no ambiente tornam-se maiores do que a capacidade da terra absorver esses mesmos impactos; o resultado é uma importante alteração na função dos ecossistemas da Terra.

Fontes:
Stockholm Resilience Centre (http://www.stockholmresilience.org/)
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs