quinta-feira, 30 de junho de 2016

Educação para todos: Mobilidade social

A educação é o caminho para uma vida mais produtiva como cidadão e trabalhador mas também pode ser um factor amplificador de desigualdade social. Se a educação a nível superior é tão cara que apenas as crianças provenientes de famílias ricas têm possibilidade de ingressar no ensino superior e se o retorno desse investimento é também elevado, então a educação pode ser um impedimento para as famílias mais pobres e agravar a desigualdade.

O gráfico abaixo mostra a relação entre a desigualdade e a mobilidade social. O eixo horizontal mostra o coeficiente de Gini (indicador de desigualdade) para um conjunto de países, em que quanto maior o coeficiente de Gini, maior a desigualdade. Os países com menor desigualdade são sem surpresa, os países escandinavos, enquanto que o país mais desigual são os Estados Unidos seguido do Reino Unido. O eixo vertical mostra o indicador de mobilidade social. Para cada país, os rendimentos dos actuais trabalhadores são correlacionados com os rendimentos dos seus pais. Se essa correlação é alta, as crianças pobres tendem a ser permanecer pobres no futuro e as crianças mais ricas tendem a ser adultos ricos. Nesse caso, a mobilidade social é baixa. Alternativamente, se existe pouca correlação, o que significa que uma criança pobre tem uma possibilidade razoável em se tornar num adulto rico, diz-se que a mobilidade social é elevada.

Curva de Great Gatsby - Desigualdade e mobilidade intergeneracional
(Fonte: http://tradehaven.net/breeding-a-generation-of-angry-young-people/)

É possível observar uma relação positiva no gráfico. Países como a Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca, que apresentam uma maior igualdade ao nível da distribuição de rendimento, têm uma maior mobilidade social; enquanto que os países mais desiguais como os Estados Unidos e o Reino Unido tendem a ter menos mobilidade social. Portanto, o rendimento dos pais é um forte indicador do rendimentos futuros dos seus filhos.

Sociedades mais iguais, que geralmente são caracterizadas por um forte papel do governo em proporcionar condições para o desenvolvimento na primeira infância e acesso a educação de qualidade em todos os níveis, apresentam uma maior mobilidade intergeneracional.

Fonte:
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs

terça-feira, 28 de junho de 2016

Educação para todos: Desenvolvimento na primeira infância

Um dos avanços mais significativos na entendimento do capital humano durante o ciclo de vida tem sido na área do desenvolvimento na primeira infância. Há 20 ou 30 anos, o foco estava direccionado para o sistema público de educação formal, com pouco entendimento da importância crucial no ambiente pré-escolar onde se inclui a saúde, nutrição, integridade física e preparação pré-escolar de crianças entre os 0 e 6 anos. A investigação nos últimos 20 anos tem mostrado os efeitos decisivos da primeira infância, especialmente durante os primeiros 3 anos. Se os primeiros 3 anos, são um período de excessivo stress, doença e subnutrição repetida ou a falta de estímulo cognitivo e preparação educacional adequados, uma jovem criança terá provavelmente dificuldades que serão impossíveis de ultrapassar durante os anos escolares ou mais tarde.

Investir na saúde, bem-estar, segurança e desenvolvimento cognitivo nas primeiras fases do ciclo de vida é portanto, crucial para o desenvolvimento subsequente das crianças; o que significa reduzir as desigualdades através de intervenções integradas e atempadas. O tempo certo para fazer esses investimentos é nos primeiros anos de vida, já que os investimentos são mais difíceis de fazer e muito menos eficazes se efectuados como correcção para uma criança com 5 ou 6 anos.

James Heckman, prémio nobel, tem estudado o problema do investimento em capital humano ao longo da sua carreira e construiu um gráfico, relacionando o retorno do investimento e a idade, que mostra que o retorno é máximo em idade pré-escolar e que à medida que a idade aumenta, o retorno que se atingem com investimentos adicionais são mais baixos. O retorno são mais elevados quando os investimentos são feitos em idade de desenvolvimento do cérebro, em socialização inicial e desenvolvimento de personalidade, em estimular a cognição e aptidão educacional e em assegurar o bem-estar físico.

Taxa de retorno do investimento em capital humano
(Fonte: http://mcchildren.org/initiatives/ecdi)

As famílias mais ricas têm mais possibilidades de fazer os investimentos necessários na idade pré-escolar. Elas podem suportar os custos e elas próprias são, muito provavelmente, educadas e por isso reconhecem os benefícios da pré-escola. São as crianças de famílias pobres que sofrem de défices de investimento em idade pré-escolar. Os seus pais não têm disponibilidade para fazer face aos custos e as crianças estarão menos preparados pelo próprio lar para a aprendizagem fora de casa.

Para diminuir esta desigualdade, o governo pode desenvolver programas e financiar as famílias mais carenciadas. Parte do problema é obviamente o dinheiro e outra parte diz respeito a apoio e formação aos pais para realçar a importância do bem-estar, desenvolvimento e enriquecimento cognitivo das suas crianças.  Quando os pais têm pouca ou nenhuma educação, pode ser necessárias orientação e apoio para criar um ambiente de aprendizagem eficaz para as suas crianças.

As sociedades que fazem investimentos substanciais em idade pré-escolar, geralmente com amplo financiamento público, acabam por ter mais mobilidade social para crianças mais pobres e com isso conseguem ter mais inclusão e produtividade. Por outro lado, as sociedades que falham nesse investimento provavelmente terão uma mobilidade mais baixa e uma maior discrepância entre as crianças de famílias ricas e pobres.

Os países em todo o mundo estão finalmente a reconhecer a importância, baseada em evidência rigorosa em diversas áreas como a pediatria, psicologia, fisiologia e economia, de que os investimentos no desenvolvimento na primeira infância são os melhores que podem ser feitos. Estes investimentos não só conduzem a eficiência em termos de retornos económicos mas também a equidade e inclusão social.

Fonte:
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs