quarta-feira, 22 de março de 2017

Por que razão a biodiversidade é importante? (por Filipe Duarte Santos)

(...) Biodiversidade designa, de forma genérica, os organismos que constituem o mundo vivo, o seu número, variedade e variabilidade. Importa ter também presente que a diversidade biológica se manifesta nos três níveis hierárquicos fundamentais da organização biológica: os genes, espécies e os ecossistemas. A diversidade genética resulta da variação genética entre os indivíduos e entre diferentes populações da mesma espécie. A diversidade das espécies representa os diferentes tipos de animais, plantas e outros organismos que habitam uma dada região e a diversidade dos ecossistemas representa a variedade de habitats que se encontram numa determinada área.

Fonte: http://www.greenrooftechnology.com/Pictures%20from%20JBi/Biodiversity.jpg

(...) Os ecossistemas naturais providenciam à humanidade um vasto e diversificado conjunto de serviços essenciais à vida. À escala global, o principal resulta de que a biosfera é uma das componentes do sistema climático terrestre e desempenha um papel crucial para assegurar a estabilidade da composição química da atmosfera para regular o clima.

(...) Um dos principais serviços prestados pelos ecossistemas naturais, consiste na geração, manutenção e fertilidade dos solos. Num grama de solo agrícola fértil existem milhares de milhões de bactérias e dezenas de milhares de fungos, algas e protozoários. São estes microorganismos que asseguram a conversão dos nutrientes - azoto, fósforo e enxofre - em substâncias químicas assimiláveis pelas plantas superiores e em particular pelas plantas das culturas agrícolas. São também os ecossistemas residentes nos solos que decompõem a matéria orgânica acumulada nas florestas e reciclam os seus nutrientes. Uma outra função crucial desempenhada pelos ecossistemas naturais é evitar a disseminação de muitas pragas e doenças que atacam as culturas agrícolas e os animais domésticos.

(...) No passado, antes da descoberta da agricultura, os ecossistemas naturais asseguravam completamente a alimentação das comunidades humanas. Na actualidade, esse serviço restringe-se quase em exclusivo aos oceanos e zonas costeiras que providenciam peixes e outros tipos de organismos marinhos comestíveis. Note-se porém que todos os tipos de plantas actualmente cultivadas para fins alimentares provieram de espécies selvagens com características especialmente favoráveis à agricultura e que foram desenvolvidas no sentido de se tornarem mais produtivas. Tal como os animais domésticos, foram espécies descobertas pelo homem na grande reserva de biodiversidade dos ecossistemas naturais. Esta imensa biblioteca genética, formada por milhões de espécies diferentes e por um número muito maior de populações geneticamente distintas, continua a ser imprescindível para a humanidade.

(...) Um dos maiores benefícios da biodiversidade é providenciar novos medicamentos. Mais de metade dos remédios usados nos países em vias de desenvolvimento têm origem em plantas. Mais de uma centena de drogas importantes na medicina actual são extraídas exclusivamente de plantas e novas descobertas são feitas, todos os anos, ao explorar e investigar uma enorme variedade de organismos, que vão desde os fungos às árvores. Ao destruir sistematicamente ecossistemas ricos em biodiversidade como, por exemplo, grandes áreas de floresta tropical húmida, estamos a provocar a extinção ou a aumentar o risco de extinção de muitas espécies, algumas ainda porventura desconhecidas e que poderão ter valor medicinal.

Finalmente restam os valores da biodiversidade que se situam nos domínios educativo, cultural, estético e ético, porventura mais importantes em termos de futuro, pelo seu carácter fundamental, estruturante e formativo. A beleza dos organismos vivos, a variedade das suas formas, cores e funções, o encanto das regiões selvagens e das paisagens naturais são valores inestimáveis, presentes nas mais diversas civilizações e profundamente ligados à nossa natureza humana. Negá-los ou subestimá-los é repudiar as nossas culturas, as nossas origens e quebrar a harmonia com o meio ambiente. É aceitar viver num mundo cada vez mais artificial, contingente, incerto, conflituoso e inseguro.

Fonte: https://www.epa.gov/sites/production/files/2015-04/new_ecowheel.jpg

(...) Há cada vez mais pessoas que apreciam o contacto directo com a natureza selvagem, que sabem identificar e conhecem a grande diversidade de espécies da fauna e flora das regiões do mundo onde vivem e que contribuem de forma empenhada para a conservação da natureza. Contudo somos ainda uma minoria à escala global. Aprender a observar e a apreciar a natureza quando se é jovem é um bem inestimável cujos benefícios e alegrias nos acompanham durante toda a vida.

Retirado de:
Que Futuro? - Ciência, Tecnologia e Ambiente, Edição Gradiva 

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