domingo, 14 de agosto de 2016

Como as alterações ambientais ameaçam o sistema alimentar

São diversos os problemas que ameaçam o nosso sistema alimentar. Um número vasto de pessoas não têm segurança alimentar; os sistemas agrícolas estão sobre stress tremendo e portanto, incapazes de assegurar dietas e nutrição saudáveis de forma económica e sustentável a fim de corresponder às necessidades das populações a nível local e global.

Um dos desafios mais prementes é o facto de a população continuar a crescer a um rápido ritmo, mesmo em termos absolutos. Todo os anos, cerca de 75 milhões de pessoas são adicionadas à população mundial. Por volta de 2025, o mundo atingirá 8 mil milhões de pessoas. A estimativa da Divisão da População das Nações Unidas coloca a população mundial em 10.9 mil milhões de pessoas por volta do ano de 2100, num cenário de fertilidade média.

Enquanto que o Mundo enfrenta o desafio de alimentar um número cada vez maior de pessoas, o actual abastecimento alimentar, já sob grande stress, irá ser sujeito a novos factores de perturbação por um conjunto de factores. Um deles é a crescente tendência de os países com rendimentos em crescimento de consumirem mais carne na sua dieta, aumentando assim a procura por cereais forrageiros. O segundo maior desafio são as alterações ambientais que tornam difícil a produção de alimentos em muitas partes do Mundo. Estas ameaças e alterações surgem de várias formas. As alterações climáticas são a principal ameaça.

As temperaturas mais elevadas em geral vão ser prejudiciais à produção de alimento nos locais onde os climas são quentes. Especialmente nas regiões tropicais mais pobres do Mundo, as culturas irão enfrentar stresses relacionados com a temperatura.

O aquecimento também será acompanhado de alterações nos padrões de precipitação regionais e globais. Muitas partes do Mundo tornar-se-ão mais secas e em muitas delas serão extremamente difícil, talvez impossível, cultivar alimentos. É um princípio geral de que as zonas secas tropicais e sub-tropicais tenderão a ficar mais secas, enquanto que as zonas mais húmidas perto do equador tornar-se-ão mais húmidas, com episódios de precipitação mais intensos.

As alterações climáticas também significarão o aumento do nível médio das águas do mar. Zonas costeiras de planície cultivadas estarão ameaçadas bem como zonas em deltas de grandes rios poderão ser inundadas por cheias ou até permanentemente inundadas.

Por outro lado, as emissões de dióxido de carbono estão a alterar o Ph dos oceanos. A acidificação dos oceanos tem implicações sérias para outra parte do fornecimento de alimentos: vida marina. Uma concentração mais elevada de dióxido de carbono atmosférico conduzirá a uma maior acidez dos oceanos, que dificulta a formação de carbonato de cálcio, componente essencial da constituição das estruturas de determinados organismos.

Outras alterações ambientais estão a afectar terrenos agrícolas e ameaçar a produção agrícola. Os produtores usam grandes quantidades de pesticidas e herbicidas nas suas culturas, mas estes químicos poluem os solos e o ambiente e afectam a biodiversidade nessas áreas.

As espécies invasoras são outro problema. Quando uma espécie é deliberadamente ou acidentalmente deslocadas de um ambiente para outro, pode desequilibrar o seu ecossistema. Uma nova espécie sem predadores naturais introduzida num ecossistema, pode tornar-se selvagem e competir com a espécie nativa.

O stress ambiental também ameaça as terras irrigadas do Mundo. O problema é que o nosso sistema de irrigação global depende de fontes de água potável - rios, glaciares e águas subterrâneas - que estão sob ameaça de sobre-utilização e das alterações climáticas provocadas pelo homem.

A rápida degradação, empobrecimento e até a perda dos solos são resultado da agricultura intensiva e as consequências são muito graves como a desflorestação, a perda de habitat e a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera.

Todas estas ameaças ambientais mostram o facto de os nossos sistemas agrícolas, mais do que outra actividade humana, dependerem do clima e dos ambientes que nós conhecemos. O abastecimento de alimentos depende dos padrões hidrológicos, da química dos oceanos e dos padrões de biodiversidade, que estão sob ameaça devido à acção humana.

Fonte:
The Age of Sustainable Development - Jeffrey D. Sachs

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