quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Índice Living Planet - actualização de 2018

Publicado há duas décadas, o Índice Living Planet global tem revelado o estado da biodiversidade no planeta, através da divulgação da taxa média de alteração de um conjunto de populações de diversas espécies.

A informação relativa às ameaças apenas está disponível para apenas cerca de um quarto de todos os registos da espécies neste índice. Estas ameaças estão agrupadas em 5 grandes categorias: perda e degradação de habitat, sobreexploração, espécies invasoras e doenças, poluição e alterações climáticas.

Frequência relativa das principais ameaças por grupo taxonómico.

A ameaça mais referida a nível global é a degradação e perda de habitat, que representa cerca de metade de todas as ameaças dentro de cada grupo taxonómico excepto os peixes. A segunda ameaça mais referida é a sobreexploração, que afecta maioritamente as populações de peixes. Juntas a degradação e a perda de habitat e a sobreexploração contabilizam pelos dois terlos de todas as ameaças registadas para as populações em cada grupo taxonómico.

As espécies invasoras e as doenças são mais frequentes para os répteis e anfíbios e mamíferos. A poluição afecta principalmente as aves e os anfíbios e répteis.

A influência das alterações climáticas nas populações selvagens ainda é relativamente moderada, afectando nomeadamente as populações de aves e peixes. No entanto, estas terão um papel relevante no que será o futuro da biodiversidade.

O índice global, calculado a partir da informação disponível para todas as espécies e regiões, mostra um declínio de 60% no tamanho das populações de vertebrados entre 1970 e 2014, ou seja, uma quebra acima do 50% em menos de 50 anos.

Índice Living Planet global entre 1970 e 2014.

A nível regional, apesar do declínio ser transversal a todas as regiões do globo, os trópicos são os que mais têm sofrido, particularmente as Américas Central e do Sul e as Caraíbas.

Índice Living Planet para a região Neotropical.

No que respeita ao Índice Living Planet para os ecossistemas de água doce, este mostra um declínio de 83% face a 1970, o que signfica uma perda de 4% ao ano. As populações mais vulneráveis são as de répteis e anfíbios e de peixes.

Índice Living Planet para os ecossistemas de água doce entre 1970 e 2014.

Fonte:
Living Planet Report 2018

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Pegada Ecológica Mundial - últimos dados de 2014

Antes do crescimento exponencial da população no século XX, o consumo da humanidade era muito menor do que a capacidade regenerativa do Planeta. No entanto, desde os meados da década de 70 que as necessidades da humanidade têm excedido aquilo que a Terra pode renovar.

Utilizando os conceitos de Pegada Ecológica e de Biocapacidade em hectares globais (gha) podemos avaliar de que forma a humanidade tem usado os recursos do planeta e como essa relação se tem alterado com o tempo.

Nos últimos 50 anos a biocapacidade aumentou cerca de 27% graças a alterações na tecnologia e nas práticas do uso do solo. O que não foi suficiente para contrabalançar o aumento de 190% da pegada ecológica durante o mesmo período.

Pegada ecológica mundial relacionada com o consumo por tipo de área entre 1961 e 2014 (em hectares globais).


A pegada ecológica calcula a quantidade de área biologicamente produtiva necessária para satisfazer as diferentes necessidades em termos de alimento, fibra, madeira, construção de estradas e edifícios e o sequestro de dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis.

Tipos de pegada ecológica de acordo com o tipo de necessidade.

Segundo os últimos dados disponíveis referentes a 2014, os países com maior pegada ecológica (acima dos 7 gha) são o Canadá, os Estados Unidos, a Dinamarca, o Luxemburgo, o Kuwait, o Bahrain, os Emirados Árabes Unidos e a Mongólia.

Mapa mundial da Pegada Ecológica relacionada com o consumo, 2014.

Fonte:
Living Planet Report 2018

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A Grande Aceleração

A Grande Aceleração é um evento único na história de 4.5 biliões de anos do nosso planeta. Este período da história que começa no início da Revolução Industrial, por volta de 1750, e continua nos dias de hoje. Pela primeira vez, as actividades humanas e o sistema económico global em particular, são o principal factor de alteração do sistema Terra ou seja a soma de todos os processos físicos, químicos, biológicos e humanos que interagem entre si.

Desde então, a população mundial cresceu 7 vezes, ultrapassando os 7.6 mil milhões e a economia mundial cresceu mais de 30 vezes. Mas foi nos últimos 50 anos que o desenvolvimento económico tem provocado uma procura crescente de energia, solo e água o que altera de forma fundamental o sistema de funcionamento da Terra.

O desenvolvimento económico e o crescimento das classes médias tem trazido vários benefícios nomeamente na melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas. No entanto, as melhorias exponenciais nos campos da saúde, conhecimento e qualidade de vida vêm acompanhadas de um custo enorme para a estabilidade dos sistemas naturais que nos sustentam. O nosso impacto atingiu uma tal escala que interfere com a atmosfera, a criosfera, os oceanos, as florestas, o solo e a biodiversidade do nosso planeta.

Para ilustrar essa aceleração foram apresentados, em 2004, 24 indicadores na síntese Global Change and the Earth System pelo IGBP (International Geosphere-Biosphere Programme) e que foram em 2015 revistos e actualizados na publicação Anthropocene Review.

12 tendências sócio-económicas.

Esses indicadores foram divididos em 12 indicadores relativos a tendências sócio-económicas e 12 relativos às tendências do sistema Terra. Os primeiros 12 reflectem as tendências da população, produto interno bruto, investimento directo estrangeiro, população urbano, uso primário de energia, consumo de fertilizantes, grandes barragens, uso da água, a produção de papel, transporte, telecomunicações e turismo internacional. Os segundos 12 reflectem as tendências relativamente ao dióxido de carbono, óxido nitroso, metano, ozono estratosférico, temperatura à superfície, acidificação dos oceanos, captura de peixes marinhos, aquacultura, fluxo de azoto que chega à costa, perda de floresta tropical, transformação do solo e degradação da biosfera terrestre. 

12 tendências do Sistema Terra.

As tendências da Grande Aceleração suportam a sugestão de que a Terra entrou numa nova era geológica - o Antropoceno - cujo termo foi autoria de Paul Crutzen e Eugene Stoermer em 2000. Até agora, o termo ainda não foi formalizado e também questiona-se quanto data do seu início.

Fontes:
Living Planet Report 2018
https://www.wwf.org.uk/sites/default/files/2018-10/wwfintl_livingplanet_full.pdf
Planetary dashboard shows “Great Acceleration” in human activity since 1950
http://www.igbp.net/news/pressreleases/pressreleases/planetarydashboardshowsgreataccelerationinhumanactivitysince1950.5.950c2fa1495db7081eb42.html

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Relatório Living Planet 2018: principais conclusões

No passado mês de Outubro, o WWF e a Zoological Society of London publicaram a mais recente versão do relatório Living Planet, um dos mais importantes documentos a nível mundial sobre a saúde do nosso planeta e o impacto da actividade humana.



No primeiro capítulo, é destacado o papel da biodiversidade para a nossa saúde, bem-estar e segurança alimentar. Estima-se que, globalmente, a natureza fornece serviços que quando avaliados somariam cerca de 125 trilliões de dólares. Também se refere a dúvida por parte dos investigadores se é possível continuar o desenvolvimento humano na ausência de sistemas naturais saudáveis.

No segundo capítulo, onde se explora as ameaças e pressões, são referidas que a sobreexploração e a actividade agrícola, em resultado do consumismo descontrolado, são ainda as principais causas da extinção de espécies. A degradação da solo afecta 75% dos ecossistemas terrestres, reduzindo o bem-estar de mais de 3 mil milhões de pessoas, com grandes custos económicos. As abelhas, outros polinizadores e os nossos solos, que são críticos para a segurança alimentar global, estão sob ameaça crescente. A sobrepesca e a poluição por plásticos estão a ameçar os nossos oceanos, enquanto que a poluição, a fragmentação e destruição de habitats têm levado ao declínio da biodiversidade em ecossistemas de água doce.

Um dos dados mais importantes deste relatório é o que resulta do Índice Living Planet que revela um declínio global de 60% nas populações das espécies entre 1970 e 2014. O mesmo índice mostra que este declínio é mais acentuado nos trópicos, sendo que a América Central e do Sul registam 89% de perda de biodiversidade tendo o ano de 1970 como comparativo.

No último capítulo, conclui-se que, apesar de múltiplos acordos internacionais e da investigação extensiva, a biodiversidade continua em declínio. Portanto mais ambição será necessária para não apenas parar o declínio mas reverter esta tendência. Para isso a visão da Convenção para a Diversidade Biológica (CBD) para o ano de 2050 será fundamental.

Fonte:
Living Planet 2018: https://www.wwf.org.uk/sites/default/files/2018-10/wwfintl_livingplanet_full.pdf