domingo, 31 de janeiro de 2016

Limites ao crescimento

Em 1972 um grupo de investigadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) publicou o livro "Os Limites ao Crescimento". Este famoso e controverso livro apresentou os resultados do estudo do MIT conduzido por  Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III e encomendado pelo Clube de Roma, que analisou a problemática mundial utilizando um modelo informático "World3" desenvolvido pelo MIT. Este modelo permitiu analisar as interacções dos cinco subsistemas do sistema económico global nomeadamente: população, produção agrícola, produção industrial, poluição e consumo de recursos naturais não-renováveis. A escala temporal para este modelo inicia-se no ano 1900 e continua até ao ano 2100. 

A publicação deste livro teve impactos imediatos que perduraram até hoje. As questões ambientais e o debate sobre sustentabilidade foram mais popularizados pela venda de milhões de cópias e tradução para 30 línguas. O World3 foi o primeiro modelo integrado global ao fazer a ligação entre a economia mundial com o ambiente. A mensagem que sobressaiu do modelo foi a de que o crescimento continuado na economia  mundial levaria a que os limites do planeta fossem ultrapassados algures durante o século XXI, muito provavelmente resultando no colapso da população e do sistema económico; porém este colapso poderia ser evitado com a combinação de atempada mudanças de comportamento, políticas e tecnologia.

Estas recomendações para mudanças fundamentais nas políticas e no comportamento tendo em vista a sustentabilidade nunca viriam a ser seguidas. Desde o tempo da sua publicação até aos dias de hoje, o livro têm recebido bastante criticismo que falsamente alega que o estudo previu que os recursos seriam esgotados e que o sistema mundial iria colapsar até ao final do século XX. Essas alegações vão produzidas em artigos científicos, livros, materiais educativos, jornais, artigos de revistas e websites.

Desde a publicação do livro em 1972, o Clube de Roma tem lançado actualizações ao mesmo numa base de 5 anos.

Previsões do estudo Limites ao crescimento em 1972 
(Fonte: http://www.commondreams.org/)
Através do gráfico acima, podemos observar a comparação entre a previsão do estudo de 1972 e a realidade observada. No período 1970-2000, o output industrial aumentou bem como a produção agrícola e serviços per capita. Paralelamente, a poluição global e a população registaram um aumento enquanto a quantidade de recursos não-renováveis remanescentes diminuíram. O estudo prevê também o declínio da população provocado pelo colapso da economia mundial por volta do ano de 2030.

Nesse estudo, os autores concluíram: "Se as tendências de crescimento da população mundial, industrialização, produção agrícola e esgotamento de recursos continuarem inalteradas, os limites ao crescimento neste planeta serão atingidos algures nos próximos cem anos. O resultado mais provável será um rápido e incontrolável declínio na população e capacidade industrial."

Fontes:

sábado, 23 de janeiro de 2016

Malthus e a Teoria Malthusiana

Thomas Malthus foi um demógrafo e economista inglês que publicou em 1798 o Ensaio sobre o Princípio da População. Surgiu como a primeira teoria demográfica teve grande impacto e é, até hoje, a mais popular entre todas, apesar das falhas que apresenta.

Thomas Malthus
A teoria Malthusiana baseia-se no Princípio da escassez em que a população humana tende a crescer mais rapidamente que a produção de alimentos o que torna o conceito de escassez de extrema importância para a economia.

Segundo Thomas Malthus, pode-se considerar dois postulados, sendo o primeiro que o alimento é necessário à existência do homem, e o segundo que a paixão entre os sexos é necessária e permanecerá aproximadamente no seu presente estado. Supõe-se então que a capacidade de crescimento da população é indefinidamente maior que a capacidade da terra de produzir meios de subsistência para o homem,

Na perspectiva de Malthus, existiam dois tipos de obstáculos. Os obstáculos positivos que contribuíam para o aumento da taxa de mortalidade (fome, desnutrição, epidemias, doenças, pragas, guerras, etc.). Os obstáculos preventivos que reduziam a taxa de natalidade como as práticas anticoncepcionais voluntárias.

O crescimento da população, os meios de subsistência e as causas da pobreza em plena Revolução Industrial são os problemas centrais analisados por Malthus. Segundo o autor, "pode-se seguramente afirmar que, se não existir nenhum controlo, a população dobra de 25 em 25 anos ou crescerá em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32,64,128,256,512,...). Pode-se afirmar também que, dadas as actuais condições médias da terra, que os meios de subsistência, nas mais favoráveis circunstâncias, só poderiam aumentar, no máximo, em progressão aritmética (1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,...). Malthus conclui também que "... o poder da população é tão superior ao poder do planeta de fornecer subsistência ao homem que, de uma maneira ou de outra a morte prematura acabará por visitar a raça humana".
Teoria de Malthus - População vs. Recursos
Assim, Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional seria mais acelerado do que o ritmo de crescimento de alimentos (progressão geométrica vs progressão aritmética) e que no futuro as possibilidades de aumento da área cultivada estariam esgotadas, pois todos os continentes estariam completamente ocupados pela agropecuária e, no entanto, a população mundial continuaria a crescer.

Malthus também elaborou uma Teoria da População, cujo objectivo principal era substituir os obstáculos positivos (guerras, pobreza, etc.) pela restrição moral.

A "queda progressiva do salário real da mão-de-obra reduz o bem estar da população". Para amenizar esse problema, Malthus recomendava o controlo da natalidade através da abstinência sexual, ou seja, o homem não deve casar antes de possuir condições económicas para sustentar a sua família.

Malthus criou a expressão "Catástrofe Malthusiana" para designar a situação na qual, como consequência da insuficiência de recursos alimentares para sustentar uma população em crescimento geométrico, é inevitável que uma grande percentagem da população pereça graças à fome e à doença.

Malthus foi um dos primeiros economistas a vincular crescimento demográfico e crescimento económico. É verdade que a sua teoria não se confirmou nos países europeus industrializados, mas apresenta certa pertinência nos países do Terceiro Mundo, onde certos governos adoptaram políticas malthusianas de controlo da natalidade.


Fontes:

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Assistência Oficial ao Desenvolvimento

Através de investimentos chave na agricultura, educação, saúde, infra-estruturas e empreendedorismo feminino, os países da África subsariana e sul da Ásia podem subir a escada do desenvolvimento, ultrapassando assim a "armadilha" da pobreza, e assim criar condições para a sustentabilidade do seu crescimento e para a saída da pobreza extrema.

O conceito de assistência oficial ao desenvolvimento (AOD), significando assistência ao desenvolvimento por parte governos e agências internacionais, está presente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos lançaram o famoso Plano Marshall para ajudar a reconstrução dos países europeus depois da devastação da guerra. Este plano proporcionou uma injecção temporária de fundos, na forma de subvenção quase na sua totalidade, para impulsionar a renovação da vida económica e o crescimento sustentável. O Plano Marshall serviu assim de inspiração para o crescimento de um sistema de subvenções e empréstimos com juros baixos, não só para reconstrução no pós-guerra mas também para impulsar o crescimento económico a longo prazo.

Segundo os seus defensores, a AOD deverá ser uma medida temporária para ajudar um país pobre na execução dos investimentos cruciais necessários. A ajuda não é uma necessidade ou uma solução permanente. Os países que recebem ajuda poderão atingir um nível de rendimento que lhes permita não depender dela na totalidade. A China e a Coreia são dois casos de países que recebiam ajuda e que prescindiram dela e, até mesmo se tornaram países doadores recentemente.

Por volta de 1970, a AOD tornou-se um pilar básico da comunidade internacional. O relatório Partners in Development sugeriu que os países mais ricos deveriam doar cerca de 1% do seu produto national bruto (PNB). Desse 1%, 0.7% deveria ser doado através de canais oficiais, principalmente subvenções e empréstimos entre governos. Os restantes 0.3% deveriam surgir de contribuições privadas: empresas, fundações, filantropo e instituições de caridade. Com esta informação, as Nações Unidas adoptou o objectivo que os países mais ricos deveriam contribuir com 0.7 % do seu produto interno para AOD.

Assistência oficial ao desenvolvimento em % do PNB em 2014 
(Fonte: http://www.oecd.org/media/oecdorg/directorates/developmentco-operationdirectoratedcd-dac/financingsustainabledev/Net%20ODA%20in%202014%20as%20percentage%20of%20GNI-640x480.png)
O gráfico acima mostra os doadores de AOD em 2014. Apenas 5 países entre os doadores chegam ao objectivo de 0.7 % do produto interno: Suécia, Luxemburgo, Noruega, Dinamarca e Reino Unido. A Suécia e o Luxemburgo atingem o 1%.

O total do produto combinado dos países doadores é cerca de 40 biliões de dólares por ano. Se os países contribuíssem de acordo com o objectivo das Nações Unidas, a ajuda no total seria de aproximadamente 280 mil milhões de dólares por ano. Na verdade, a ajuda ronda os 120 mil milhões ou seja, apenas 0.3% do produto bruto dos países doadores.

Assistência oficial ao desenvolvimento em valores absolutos em 2014
(Fonte:  http://www.oecd.org/media/oecdorg/directorates/developmentco-operationdirectoratedcd-dac/financingsustainabledev/Net%20ODA%20in%202014-640x480.png)

Em termos absolutos, os países que mais contribuíam em 2008 eram os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Japão, com claro destaque para os primeiros que distribuem 26 mil milhões de dólares.

Depois do ano 2000, assistiu-se a um aumento significativo de AOD na saúde que foi fundamental para o controlo da SIDA, malária e tuberculose e para assegurar boas condições para a mães e os recém-nascidos nos primeiros dias de vida. Essa ajuda também pode ajudar a assegurar que as crianças recebam uma nutrição adequada e que possam frequentar a escola.

A AOD pode fazer uma enorme diferença quando usada para o real propósito do desenvolvimento e numa base profissional dentro de uma correcta análise diferencial das necessidade de um país pobre. Esta ajuda pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma saída da "armadilha" da pobreza.

Fonte: 
The Age of Sustainable Development (Jeffrey D. Sachs)