segunda-feira, 2 de julho de 2018

As secas e as alterações climáticas

A seca ocorre quando a evaporação devida a altas temperaturas excede a precipitação por longos períodos de tempo. No entanto, a definição de seca pode variar em função da área de conhecimento. Para um meteorologista, a seca é a falta de precipitação conhecida como a "seca meteorológica". Para um agricultor a seca pode ser a falta de chuva que afecta a humidade no solo e o crescimento das culturas ("seca agrícola"). Enquanto que para um hidrologista é mais importante quando existe um impacto nos caudais dos rios, nos aquíferos e reservatórios.

Tipos de seca.

Estas definições mostram-nos que a precipitação não é o único factor. As altas temperaturas, o tipo de vegetação, o tipo de solo e a topografia afectam a intensidade das secas. As actividades humanas também desempenham um importante papel através da forma como usamos a água e alteramos o uso do solo através da desflorestação e expansão das áreas agrícolas e urbanas.

Um estudo aponta para que pelos menos 30% da área da Terra (excluindo a Antárctica) já foi afectada por secas severas e prolongadas. Entre as regiões mais afectadas estão a Califórnia, o Mediterrâneo, o Leste e Sul de África e Austrália. De acordo com um estudo da NASA, cerca de 45% da área da Terra pode ser afectada por fenómenos de seca extrema até 2059.

Stress hídrico no Mundo.
(Fonte: World Resources Instittute)

Existem numerosas formas de quantificar uma seca. Estes índices levam em conta diversas variáveis que podem ser medidas, directamente ou indirectamente, com a precipitação, temperatura, evaporação, humidade no solo, caudais dos rios e níveis dos reservatórios de água.

Uma das medidas mais comuns é o Palmer Drought Severity Index (PDSI). Este índice usa estimativas mensais da evapotranspiração (calculada em função da temperatura) e dados da precipitação bem como a informação quanto à capacidade do solo reter água.


Dada a multiplicidade dos factores que contribuem para uma seca, não se torna fácil identificar a influência das alterações climáticas. O IPCC em 2013 concluiu que existia "pouca confiança" em relação à influência das alterações climáticas na tendência das secas.

No entanto, estudos mais recentes que usam modelos climáticos, registos paleoclimáticos e observações demonstram claramente que as alterações climáticas têm desempenhado um papel nas secas recentes.

Por exemplo, a diminuição da precipitação no Mediterrâneo causada pelas alterações climáticas levou ao aumento do risco de seca na região, amplificando eventos recentes com a seca que antecedeu a Guerra Civil na Síria.



As previsões apontam para um aumento do risco de seca em muitas regiões no Mundo. Regiões como o Mediterrâneo, América Central, Sudoeste dos Estados Unidos e área subtropicais do hemisfério sul serão as mais afectadas. Esta situação ocorre em função da diminuição da precipitação provocada pelas alterações climáticas, mas também em função do efeito directo do aumento das temperaturas, que aumenta as perdas de água por evaporação à superfície, causando um derretimento precoce da neve e mudanças da precipitação da neve para chuva.



Quando a precipitação ocorrer, será de menor duração e com uma intensidade maior. O que significa que os Verões serão caracterizados por tempo seco interrompido por chuvas fortes. Como resultado, o escoamento no Verão poderá aumentar, beneficiando o enchimento de rios, lagos e reservatórios, o que não alivia os défices de humidade no solo e a escassez de água no sub-solo.

Com um futuro mais seco, as soluções estarão na melhoria da gestão dos recursos hídricos e a cooperação entre stakeholders e na redução dos gases com efeito de estufa a fim de limitar os efeitos das alterações climáticas e o risco de seca em muitas regiões.