sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ciclo do nitrogénio

O maior reservatório de nitrogénio é a atmosfera. O nitrogénio atmosférico (N2) corresponde a 78% do volume da atmosfera. Este gás é um componente crucial das proteínas, muitas vitaminas e ácidos nucleicos como o ADN. No entanto, o N2 não pode ser absorvido e usado directamente como um nutriente por plantas multi-celulares e animais.

Felizmente, dois processos naturais convertem ou fixam, o N2 em compostos que plantas e animais podem usar como nutrientes. Um são as descargas eléctricas, ou relâmpagos, que ocorrem na atmosfera. O outro acontece em sistemas aquáticos, no solo e nas raízes de algumas plantas, onde bactérias especializadas, chamadas de bactérias fixadoras de nitrogénio completam esta conversão como parte do ciclo de nitrogénio.

Ciclo do nitrogénio
(Fonte: http://blog.nutrientsforlife.org/wp-content/uploads/2014/08/Nitrogen-Cycle.jpg)

O ciclo consiste em diversos passos. Na fixação de nitrogénio, bactérias especializadas no solo como também cianobactérias em ambientes aquáticos combinam o nitrogénio atmosférico com hidrogénio para produzir amoníaco (NH3). A bactéria usa parte do amoníaco que produzem como nutriente e excretam o resto para o solo e para a água. Algum deste amoníaco é convertido em iões de amónio (NH4+) que plantas podem usar como nutriente.

O amoníaco que não é usado pelas plantas pode passar pela nitrificação em que bactérias especializadas presentes no solo convertem a maior parte do NH3 e  NH4+ em iões de nitrato (NO3-), que poderão ser absorvidos facilmente pelas raízes das plantas. As plantas podem então usar estas formas de nitrogénio para produzir diversos aminoácidos, proteínas, ácidos nucleicos e vitaminas. Os animais que consomem estas plantas, fazem uso destes compostos que contêm nitrogénio, como são os detritívoros e decompositores.

As plantas e animais devolvem os compostos orgânicos ricos em nitrogénio para o ambiente através de excreções ou partículas de tecidos como folhas, pele e cabelo, e através dos seus corpos quando morrem e são decompostos ou consumidos por detritívoros. Na amonificação, exércitos vastos de bactérias decompositoras convertem esse detritos em compostos inorgânicos simples como a amoníaco (NH3) e sais solúveis em água contendo iões de amónio (NH4+).

Na desnitrificação, bactérias especializadas em solos embebidos em água e em sedimentos no fundo de lagos, oceanos e pantânos convertem amoníaco e iões de amónio em iões de nitrato e depois em nitrogénio atmosférico e óxido nitroso. Estes gases são libertados para a atmosfera e entram novamente no ciclo.

Nós intervimos no ciclo de nitrogénio de cinco formas. Em primeiro lugar, adicionamos grandes quantidades de óxido nítrico (NO) para a atmosfera quando N2 e O2 são combinados na queima de qualquer combustível a altas temperaturas. Na atmosfera, este gás pode ser convertido em dióxido de nitrogénio (NO2) e ácido nítrico, que podem voltar à superfície terrestre sob a forma de chuva ácida.

Em segundo lugar, adicionamos óxido nitroso (N2O) para a atmosfera através da acção de bactérias anaeróbicas presentes em fertilizantes inorgânicos ou estrume animal aplicados no solo. Este gás com efeito de estufa pode provocar dano na atmosfera e no ozono estratosférico, que impede a radiação ultravioleta nociva de chegar à superfície terrestre.

Em terceiro lugar, nós libertamos grandes quantidades de nitrogénio armazenados no solo e plantas sob a forma de compostos gasosos para a atmosfera, através da destruição de florestas, prados e pântanos.

Em quarto lugar, nós alteramos o ciclo de nitrogénio em ecossistemas aquáticos ao adicionar nitratos (NO3-) a massas de água através da escorrência de fertilizantes e estrume animal usados na agricultura e da descarga de sistemas de esgotos municipais. Isto pode causar um crescimento anormal de algas.

E por último, nós removemos nitrogénio das camadas superiores do solo quando fazemos a colheita de culturas ricas em nitrogénio, quando irrigamos as culturas (retirando nitratos do solo) e quando queimamos e destruímos prados e florestas antes de plantarmos culturas.

De acordo com o relatório "Millenium Ecosystem Assessement" de 2005, as actividades humanas mais do que dobraram a quantidade de nitrogénio libertada do solo para o resto da atmosfera - a maioria causada pelo uso crescente de fertilizantes para a agricultura - e projecta-se que esse valor pode duplicar outra vez até 2050.

Quantidade de nitrogénio libertado
(Fonte: http://oi60.tinypic.com/2w4fw61.jpg)
O excesso de nitrogénio é um problema ambiental sério e crescente a nível local, regional e global que tem despertado pouca atenção.

Fonte:
Living in the environment - G. Tyler Miller, Scott E. Spoolman

domingo, 4 de setembro de 2016

Ciclo do carbono

O carbono é um elemento essencial na vida da Terra. Ele está presente nos hidratos de carbono, gorduras, proteínas, ADN e outros compostos orgânicos. Nós precisamos de carbono em diversas áreas das nossas vidas mas essa necessidade está intimamente ligada com uns dos problemas mais sérios que enfrentam hoje: as alterações climáticas.

O carbono é o quarto elemento mais abundante no Universo. A maior parte dele está armazenado na litosfera (65.000 mil milhões de toneladas) na litosfera e o restante encontra-se nos oceanos, atmosfera, plantas, solo e combustíveis fósseis.

Os fluxos de carbono entre cada reservatório chama-se ciclo de carbono, que apresenta componentes lentas e rápidas. Uma alteração no ciclo que retira o carbono de um reservatório, coloca mais carbono nos outros reservatórios.

No longo prazo, o ciclo de carbono aparenta manter um equilíbrio que evita que todo o carbono se concentre na atmosfera ou na litosfera. Este equilíbrio ajuda a manter a temperatura relativamente estável, como um termóstato.

Ciclo de carbono
(Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d5/Carbon_cycle.jpg)

Ciclo de carbono lento

Através de uma série de reacções químicas e actividade tectónica, o carbono demora entre 100 e 200 milhões de anos a deslocar-se entre rochas, solos, oceanos e atmosfera no ciclo de carbono lento. Em média, entre 10 a 100 milhões de toneladas de carbono se movimentam neste ciclo.

O movimento de carbono da atmosfera para a litosfera (rochas) começa com a chuva. O carbono atmosférico combina-se com a água e forma um ácido fraco - ácido carbónico - que chega à superfície terrestre na chuva. O ácido dissolve as rochas e liberta os iões de cálcio, magnésio, potássio e sódio, que depois são levados pelos rios até aos oceanos. No oceano, os iões de cálcio combinam-se com iões de bicarbonato e formam o carbonato de cálcio, que faz parte de organismos como corais e plankton. Quando esses organismos morrem, eles depositam no fundo do mar. Com o decorrer do tempo, camadas de conchas e sedimento formam rocha, armazenando o carbono dessa forma.

O ciclo lento faz com que o carbono retorne à atmosfera através de vulcões. Presentemente, os vulcões emitem entre 130 e 380 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, comparados com os 30 mil milhões de toneladas emitidas pelo homem através da queima de combustíveis fósseis.

O ciclo lento também tem uma componente ligeiramente rápida: o oceano. Na sua superfície, onde o ar encontra a água, o dióxido de carbono dissolve-se e ao reagir com as moléculas de água, liberta hidrogénio, tornando o oceano mais ácido. O hidrogénio reage com o carbonato, resultante da meteorização, para produzir iões de bicarbonato.

Fonte: http://media3.s-nbcnews.com/j/MSNBC/Components/Photo/_new/091006-tech-volcano-hmed.grid-6x2.jpg

Ciclo de carbono rápido

Este ciclo é na sua maioria o movimento de carbono através das formas de vida na Terra (biosfera). Entre 1000 e 100.000 milhões de toneladas de carbono movimentam-se no ciclo de carbono rápido todos os anos.

As plantas e o fitoplankton são os principais componentes deste ciclo. Estes retiram dióxido de carbono da atmosfera ao absorvê-lo nas suas células. Usando a energia dos Sol, as plantas e o plankton combinam o dióxido de carbono e água para formar açúcar e oxigénio.

O ciclo de carbono rápido está intimamente ligado com a vida das plantas que a época de crescimento pode ser vista na forma como a concentração de dióxido de carbono varia na atmosfera. No inverno no hemisfério norte, poucas plantas crescem e muitas estão em decomposição, as concentrações de dióxido de carbono sobem. Durante o verão, quanto as plantas começam a crescer, as concentrações descem.


Alterações mensais de dióxido de carbono e Produtividade primária líquida em Agosto e Dezembro

(Fonte: http://earthobservatory.nasa.gov/Features/CarbonCycle/)

Alterações do ciclo do carbono

Sem perturbação, os ciclos rápido e lento mantêm uma concentração relativamente estável de dióxido de carbono na atmosfera, solo, plantas e oceanos. Mas quando algo altera a quantidade de carbono num reservatório, terá efeitos nos outros reservatórios.

Hoje as alterações no ciclo de carbono estão a acontecer devido à actividade humana. Nós perturbamos o ciclo ao queimar combustíveis fósseis e ao fazermos alterações no solo. Quando destruímos florestas, libertamos o dióxido de carbono armazenado na biomassa das plantas e reduzimos a capacidade das florestas em absorver o gás. Ao convertermos as florestas em terrenos agrícolas e pastagens, também reduzimos a capacidade de armazenamento de dióxido de carbono. Os humanos emitem cerca de mil milhões de toneladas de carbono para a atmosfera por ano através de alterações no uso de solo.

Sem a interferência humana, o carbono presente nos combustíveis fósseis seria libertado para a atmosfera lentamente através da actividade vulcânica ao longo de milhões de anos. Nós aceleramos o processo, ao libertarmos quantidades enormes de carbono através da queima de carvão, petróleo e gás natural.


Emissões globais de dióxido de carbono

(Fonte: http://www.skepticalscience.com/images/co2_emissions.gif)
Desde o início da revolução industrial, as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera aumentou de 280 partes por milhão (ppm) para mais de 400 ppm, a mais alta em 2 milhões de anos.

Fonte:
http://earthobservatory.nasa.gov/Features/CarbonCycle/